FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Testamos o dispositivo que muda o som à sua volta

Nós temos uma gambiarra sobre os fones de ouvido que permite controlar cada som que você ouve.

Imagens fornecidas por Doppler Labs

Um dos muitos motivos pelos quais adoro ir a shows é que, quando estou lá, perco quase totalmente o controle sobre minha experiência. Sempre acabo dormindo assistindo a filmes de que não gosto, meu protesto silencioso contra alguém que me fez ver algum filme do Wes Anderson (pronto, falei). Se por acaso não gosto de uma exposição em uma galeria, vou embora. Mas shows são caros e quase todo mundo vai acompanhado — não vou simplesmente sair do nada. Completamente à mercê dos músicos, não temos poder nenhum contra solos de baterias e interlúdios falados. Mas adoro a entrega que acontece, porque, em um show, eu e todas as outras pessoas que ali estão, gostando ou não, estão passando pela mesma experiência artística na mesma hora. Isto é raro nos dias de hoje. Poucos de nós ouvem rádio, em vez disso escutamos playlists do Spotify cuidadosamente selecionadas. Nossos hábitos de televisão são divididos por índices demográficos — nós assistimos Game of Thrones, nossos pais assistem a Blue Bloods e nossos irmãos mais novos estão acompanhando freneticamente o Snapchat de Kendall e Kylie Jenner. Sobraram pouquíssimas e preciosas experiências artísticas em comum.

Publicidade

Por isso a ideia do Here Active Listening, um dispositivo que permite ao usuário gerenciar os sons a sua volta — diminuindo o baixo ou ativando ruído brando, por exemplo — me pareceu, a princípio, muito errada. Porque plugs de ouvido de alteração sonora têm o potencial de acabar com a única experiência artística compartilhada que sobrou para mim, os shows. Apesar de ter vencido na categoria de melhor inovação do festival South by Southwest e de ter recebido o apoio de Hans Zimmer, investidor na companhia que experimentou o aparelho em seu estúdio particular, eu ainda estava cético em relação à novidade.

Para Noah Kraft, cofundador e diretor executivo da empresa por trás do dispositivo, Doppler Labs, não existe algo como uma experiência musical completamente idêntica. “Todos nós ouvimos de maneira subjetiva”, conta. “Toquei bateria por 18 anos e isso certamente teve algum efeito em minha percepção auditiva.” O ideal a que me agarrava em que eu e centenas de pessoas ouvíamos os mesmos sons ao mesmo tempo não aconteceria. Todos ouvimos de maneiras pelo menos um pouco diferentes. A ideia do dispositivo Here é que todos possamos criar experiências sonoras individualizadas, equalizar as frequências intermediárias se o engenheiro de som for incompetente, ou diminuir o volume alguns decibéis e poupar seus ouvidos de uma semana de zumbido após um show. “Se fôssemos a um restaurante e nos servissem a comida sem nos darem sal e pimenta, diríamos que temos gostos diferentes, certo?”, diz Kraft. “Nossos ouvidos funcionam 24 horas por dia, mas até então não havia como oferecer esse tipo de controle dinâmico que permitisse realmente entender o que você escuta.” Eu ainda não estava completamente convencido. Não é esperado que nossos ouvidos fiquem com zumbido após um show de rock? Não deveríamos todos curtir ou sofrer juntos com a qualidade do som dos shows que assistimos? Para ser justo com o dispositivo Here, incorporei os plugs de ouvido durante uma semana em meu cotidiano.

Publicidade

No momento em que os coloquei, senti como se eles estivessem em meu cérebro. Não há nenhum atraso, e o som é alterado no segundo em que você o escuta, o que cria uma experiência sonora sem atrasos ou descontinuidades. “As pessoas o comparam muito com o Oculus”, diz Kraft. A comparação, por sua vez, é apropriada: Here é a realidade aumentada para seus ouvidos.

O dispositivo é de fácil utilização. Após cerca de meia hora de recarga — em seu próprio estojo, conectado a um computador via USB — você simplesmente os coloca perto de seu smartphone para sincronizá-lo com o aplicativo Here. Esse é o aplicativo que permite a mudança da qualidade sonora do ambiente, com configurações personalizadas ou pré-estabelecidas, para diferentes estilos musicais (“Dirty South”) ou ambientes sonoros não musicais (“Office”). Voltando de metrô para casa, fiquei feliz de poder diminuir o volume do trem chegando à estação e das conversas de adolescentes em geral. Imediatamente após colocar o dispositivo em meus ouvidos, esqueci que todas essas pessoas estavam ali. Ao vincular a tecnologia do Here com algo com que já estamos acostumados a usar — fones de ouvido — a Doppler Labs contorna um dos maiores problemas relacionados a dispositivos tecnológicos: um conceito às vezes inovador demais ou um design simplesmente muito feio. “Precisamos criar um produto tão aceitável socialmente quanto a própria tecnologia, se não acaba virando um Google Glass”, diz Kraft. “E ninguém quer usar um Google Glass.”

Publicidade

Mas o maior teste do Here ainda era o ambiente de um show. Usei o dispositivo em uma apresentação do grupo Young Fathers, sentado no fundo com outras pessoas entediantes que queriam curtir uma cerveja em paz. O cara da sonoplastia não foi muito legal com a atração de abertura, HXLT, mas com o Here e meu aplicativo eu mesmo resolvi o problema. Diminuindo o agudo, melhorei infinitamente minha experiência. Por mais estranho que possa parecer, a configuração pré-estabelecida que funcionou melhor foi a “Airplane”. Vergonhosamente, ainda diminuí o volume. O único problema que tive foi que fiquei tão confortável com o som que criei que falava baixo demais com as pessoas, tendo esquecido completamente que estávamos em um show bem barulhento.

Então sim, me convenci. Sou um purista em teoria, adoro a ideia de uma experiência artística transcendental em grupo, mas, na verdade, o que eu quero é poder ouvir direito um show e acordar na manhã seguinte sem zumbido no ouvido. Here ainda não está à venda – tem uma mailing list, já com 70000 pessoas – mas Kraft e sua equipe pretendem colocá-lo no mercado no fim do ano. Por enquanto, vou parar de pensar no Here como o instrumento que vai por fim à experiência auditiva em grupo. Para mim, pelo menos, eles conseguiram melhorá-la. Me senti muito mais envolvido e atento naquele show do que estaria se tivesse me distraído com a qualidade ruim do som e com o zumbido em meus ouvidos. Com o Here, eu estava realmente presente.

Clique aqui para saber mais sobre o Here Active Listening.

Tradução: Flavio Taam