FYI.

This story is over 5 years old.

arte

"The Black Years": Nazismo e Sua Relação com a Arte na Alemanha

Obras criadas, adquirizas e apreendidas durante o regime nazista fazem parte da exposição "The Black Years. Histories of a Collection. 1933-1945" no Hamburger Bahnhof Contemporary Art Museum em Berlim.

Karl Hofer (1878–1955): Die schwarzen Zimmer (II. Fassung), 1943. Öl auf Leinwand, 149 x 110 cm. Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie / bpk / Jörg P. Anders. © VG Bild-Kunst, Bonn 2015

Dizem que a arte imita a vida. Mas então o que a arte criada, adquirida e confiscada durante o regime nazista nos conta sobre a vida na Alemanha nas décadas de 1930 e 1940? Esta é a questão central da exposição The Black Years. Histories of a Collection. 1933-1945 [Os Anos Negros. Histórias de uma Coleção], em cartaz no Hamburger Bahnhof Contemporary Art Museum, em Berlim. A mostra, que inaugura o novo espaço expositivo do museu, a Neue Galerie, apresenta obras das três categorias mencionadas anteriormente, incluindo pinturas e esculturas de Otto Dix, Karl Hofer, Hans Uhlmann, Pablo Picasso, Lyonel Feininger, entre outros.

Publicidade

A própria exposição foi concebida de modo que aludisse aos ângulos acentuados, sombras e portais de Die schwarzen Zimmerou “A Sala Negra”, pintura de Karl Hoferde 1943. Nesse local inquietante, as obras parecem transpirar o sentimento de aflição da época, de modo a prover, à sua própria maneira, uma janela que mostra como a arte funcionava e era percebida durante o regime de Hitler. Para apresentar esse período, os curadores se utilizaram de 15 obras de arte italianas que ilustram o intercâmbio cultural entre a Alemanha e a Itália fascista em 1932 e 1933 — obras de pintores como Giorgio de Chirico e Carlo Carrá.

Otto Dix (18911969): Flandern, 1934–1936. Öl und Tempera auf Leinwand, 200 x 250 cm. Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie / Jörg P. Anders. © VG Bild-Kunst, Bonn 2015

Embora essas peças sejam representativas de um gosto cultural transnacional específico do regime, as principais obras chegam a algo mais próximo do essencial ao objetivo da exposição. Como apresentado no release, “algumas obras gozaram da aprovação do regime e foram consideradas exemplos da arte ‘nacional’, enquanto outras foram alvo de escárnio e consideradas ‘degeneradas’. Muitos artistas foram perseguidos pelo regime e exilados, e alguns tiveram o direito de expor suas obras negado, enquanto outros podiam contar com comissões do Estado para investir em suas carreiras”. A linha entre aprovação e rejeição é posteriormente descrita como “fluida”, uma tolerância aparentemente arbitrária de alguns e a censura de outros que, de qualquer forma, é uma excelente — senão perversa — manifestação histórica do papel do gosto na qualificação da “boa arte”.

Publicidade

Contudo, considerar estas questões de censura e controle culturais como meros fenômenos históricos é problemático. A arte influenciada, adquirida e banida por regimes ditatoriais é um problema tanto contemporâneo quanto histórico. O que significa, por exemplo, o fato de Vladimir Putin estar repentinamente em posse de uma coleção de arte de 2 bilhões de dólares com obras de da Vinci e Michelangelo? E o fato de Kim Jung Il ter redigido manifestos sobre o cinema? O caráter educacional da mostra parece, entretanto, demandar mais do que o reconhecimento e a ciência dessas questões políticas e culturais. Exemplos de produções como reação às questões no Irã e a censura sob o Aiatolá Khamenei, ambos já registrados em nosso site, parecem se aproximar mais do objetivo mais abrangente de The Black Years.

Considerando o contexto em que foi concebida a exposição — uma mostra que hipoteticamente poderia ter sido produzida a qualquer momento nas últimas décadas — essas conexões são, se não explícitas, inevitáveis. Desta forma, o trabalho de The Black Years se extende para além de 1945 e de Hitler, e representa uma necessidade atual de reconhecer e refletir sobre manifestações contemporâneas desses mesmos “fenômenos” culturais.

Veja abaixo algumas obras selecionadas da exposição.

Karl Kunz (19051971): Deutschland erwache!, 1942. Öl auf Sperrholz, 120 x 142 cm. Schenkung 2015 von Wolfgang Kunz, Berlin. Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie. © Wolfgang Kunz

Publicidade

Lyonel Feininger (1871–1956): Teltow II, 1918. Öl auf Leinwand, 101 x 126 cm. Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie / bpk / Klaus Göken. © VG Bild-Kunst, Bonn 2015

Erwin Hahs (18871970): Großes Requiem, 1944/1945. Öl auf Leinwand, 191 x 143 cm. Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie / bpk / Jörg P. Anders. © Erbengemeinschaft Erwin Hahs

Hans Uhlmann (19001975): Kopf, 1935. Eisendraht, 37 x 12 x 23 cm. Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie / bpk / Roman März. © VG Bild-Kunst, Bonn 2015

Röntgenbild von Erwin Hahs Großem Requiem, 1944/1945. © Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie / Christoph Schmidt

The Black Years. Histories of a Collection. 1933-1945 fica em cartaz até julho de 2016 no Hamburger Bahnhof Contemporary Art Museum, em Berlim. Para saber mais, acesse a página da exposição.

Tradução: Flavio Taam