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Tecnologia

​Como Anos de Curtidas Incessantes Mudam seu Feed do Facebook

Como podemos controlar o que vemos em nossos feeds (desde que sejamos um pouco mais criteriosos).

O repórter Mat Honan, da Wired, resolveu fazer uma experiência: ele "curtiu" todos os posts do seu feed do Facebook por dois dias só para ver o que rolava.

"Eu curto tudo. Pra dizer a verdade, eu curti tudo por 48 horas", escreveu Honan. "Curti tudo que o Facebook me mandava, literalmente – até o que eu odiava."

Honan entrou nessa missão para descobrir o que essas curtidas fariam com seu feed de notícias, definido por ele como "uma galeria muito bem curada". Depois de um tempo, ele percebeu que o seu feed estava saturado de sites oportunistas e seus conteúdos virais. "O meu feed foi invadido por sites como o Upworthy e o Huffington Post", conta. Ele percebeu que os feeds do seu computador e do seu celular eram diferentes; ambos se tornaram, eventualmente, "ridiculamente estúpidos".

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Após ler o texto da Wired, um colega meu veio à minha mente (ele pediu que seu nome não fosse divulgado). Ele é conhecido por curtir tudo que seus amigos postam no Facebook. Ele não curte nenhum post de páginas de artistas ou de sites de notícias, mas curte sem limites tudo o que seus amigos postam.

Aproveitando o texto da Wired, resolvi perguntar para esse cara sobre sua fissura por dar joinhas no Facebook e se isso mudou algo na sua relação com o site. Falei com ele no Facebook, obviamente.

"Eu curto aproximadamente 75% de tudo que aparece no meu feed", ele disse. "Tenho um certo padrão: eu tendo a gostar da maioria das coisas na vida real, e penso que todos os status e comentários, por mais mundanos ou inúteis que pareçam, têm algo 'curtível'".

"Por exemplo, hoje eu dei uma olhada em um bando de notícias repetidas sobre o Robin Williams e descobri, no meio delas, um ótimo post sobre trancas de bicicletas", acrescentou.

Eu notei sua obsessão por curtir há alguns anos, quando percebi que estava recebendo muitas notificações de um cara que eu conhecia, mas com quem não tinha muito contato. Ele é ex-namorado da irmã de uma ex-namorada minha: um cara gente boa e que já vi em algumas festas, mas nossa relação acaba por aí. Ele curtia minhas fotos, meus álbuns, meus status, os links que eu postava, meus posts nos murais de outras pessoas – ou seja, tudo.

"Acho que já tem uns três anos", ele me disse. "É meio difícil de saber agora que eu já olhei e curti grande parte do histórico dos meus amigos."

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Percebi que ele estava fazendo a mesma coisa com vários amigos em comum, deixando rastros em todo conteúdo que aparecia no meu feed. Quando a possibilidade de curtir comentários surgiu, ele também a dominou, passando a curtir até os próprios comentários. Se curtir as próprias curtidas fosse possível, tenho certeza que ele as curtiria.

"Eu realmente não sei [porque comecei a fazer isso]", ele disse. "Talvez tenha sido algo gradual, começando com curtidas esporádicas que ficaram cada vez mais frequentes, até chegar num ponto em que eu estava curtindo tudo que meus amigos postavam."

Essa obsessão virou uma piada entre mim e meus amigos; tudo que postávamos era logo carimbado por suas clicadas insistentes. Anos se passaram, e ele ainda não parou de clicar.

MEU FEED DE NOTÍCIAS TEM UMA PORCENTAGEM MAIOR DE STATUS PESSOAIS E FOTOS DO QUE O DA MAIORIA DAS PESSOAS.

Eu perguntei se o seu feed estava cheio de publicidade, como o feed do Honan, e ele disse que ele evita curtir essas páginas justamente pelo fato de elas se espalharem pelos feeds de forma desenfreada.

"Eu não costumo curtir páginas como as do Buzzfeed, do Daily Mash e páginas específicas do Facebook", ele disse. "Eu não acho elas interessantes; seus conteúdos e formatos são todos meio iguais."

"Eu costumo gostar mais das coisas dos meus amigos do que de posts promocionais, então acho que eles não mudaram meu feed", disse. "Na verdade, meu desinteresse por páginas como o Huffington Post faz com que o meu feed de notícias tenha uma porcentagem maior de status pessoas e fotos do que o feed de outras pessoas."

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O feed do meu conhecido pode não ter mudado muito, mas o meu feed, que está do outro lado dos seu cliques, mudou. Ao longo de vários meses, comecei a perceber que meu conteúdo no Facebook passou a ser menos curtido. O algoritmo do Facebook deve ter me colocado mais abaixo no seu feed coletivo de imagens, links e status (ou talvez ele tenha decidido não curtir nada do que eu posto).

Não é algo lamentável – é meio chato olhar suas notificações e ver que são todas do "cara que curte tudo" – mas sim um lembrete sobre a flexibilidade de nossos feeds, mesmo quando ele só contém posts de pessoas reais, e não de marcas.

Ao contrário do pesadelo de propagandas do feed do Honan, o feed do meu amigo é uma lembrança do que o Facebook costumava ser, antes de ser invadido por posts do Upworthy e páginas de celebridades. Sim, seu feed está cheio de coisas postadas por seus amigos.

"Passei a me importar menos com os links, notícias e listas que as pessoas postam no Facebook e mais com suas vidas, seus posts pessoais e suas fotos", ele disse. "Atualmente, muitas das minhas histórias favoritas no Facebook são histórias que eu teria achado chatas no passado."

Isso acontece porque ele está clicando apenas no conteúdo disponibilizado por seus contatos, e não em propagandas, como na experiência de Honan. Mas é um bom exemplo de como podemos controlar o que vemos em nossos feeds – desde que sejamos um pouco mais criteriosos com o que curtimos.

Tradução: Ananda Pieratti