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Música

Canções que salvam vidas: Joana Barra Vaz

"A Demora" está cheio de música, de copos bebidos à torreira, quando o juízo pede uma sombra, de chapinhaços à beira-mar como se fôssemos putos outra vez. É, por isso, música da época, mas é também por isso, música que se vai fazer intemporal.

Está a chover que se desunha. Está um calor infernal. É sexta-feira e estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula. Por outro lado, é sexta-feira, estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula, mas não tens guito. Não te apetece ir trabalhar. Não te apetece estudar. Vais é dar uma volta pela cidade. Espera, está a chover. Pronto, vais ver o mar, que está um calor diabólico. Alto, que isto está cheio de turistas e não dá para ir a lado nenhum. Nunca mais chega a Primavera! Primavera é que não, que é só alergias.

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Um gajo nunca está contente. Se não é do cu é das calças. O que vale é que, como toda a gente sabe, há canções que salvam vidas (os Smiths cravaram-no a letras de ouro no cancioneiro pop para toda a eternidade). Semanalmente, e para que a tua vida ganhe um novo sentido e encontres a salvação possível, deixamos por aqui um desses bocadinhos de lírica e melodia (ou ruído e grunhidos selvagens, conforme a disposição) que têm a capacidade de, em pouco mais de três minutos, te salvarem. Se não a vida, pelo menos o dia.

Vídeo realizado por Maria João Marques e Joana Barra Vaz

Concordamos que já estava tudo fartinho de chuva, certo? A Joana Barra Vaz não deve desdenhar um belo dia de tempestade, sentada à janela a ver a tromba de água desabar no jardim lá fora. Consegue-se imaginá-la a escrever e a compor num cenário assim. Há melancolia suficiente na sua voz e na melodia deste "A Demora" - segundo single de avanço para "Mergulho em Loba", longa duração com data de lançamento prevista para Setembro - para pintar esse cenário.

Podia ser assim num filme qualquer. Uma cena meio cliché, a inspiração a fluir, as letras a serem escritas ao ritmo da chuva, o café a fumegar na chávena, a autora, poetisa, criadora, sentada como as crianças no sofá… Enfim, vocês percebem. E, no entanto, desse suposto ideal melancólico o que nasce é praia. É sol radioso e vontade de molhar os pés (que é literalmente o que a Joana faz no teledisco). É canção pop a fervilhar de balanço africano, ainda que sempre (e bem) contido, como se estivesse sempre à beira de rebentar. É ruído e tensão a crescer na melodia fresca e salgada. É, adivinham bem, salvação pelo calor, pelo aconchego do Inverno transformado em liberdade de Verão.

"A Demora" está cheio de música, de copos bebidos à torreira, quando o juízo pede uma sombra, de chapinhaços à beira-mar como se fôssemos putos outra vez. É, por isso, música da época, mas é também por isso, música que se vai fazer intemporal. Sem pressas, mas sem dúvidas. Para ressacas gloriosas e novos começos de fim de tarde. Pró menino e prá menina.