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[Vídeo] Colônias | Vik Muniz e Tal Danino Transformam Células Vivas em Arte

O artista brasileiro e o cientista se uniram num projeto ambicioso e impressionante, capaz de extrair beleza de bactérias e até do câncer.

Flowers (2014), última obra de série Colônias. Cortesia de Vik Muniz e Tal Danino.

Vik Muniz, artista brasileiro multidiscplinar, não imaginava que seu encontro com o pós-doutor do MIT (que se auto-entitula "entusiasta das bactérias") Tal Danino, seria o início imediato de um intenso processo de criação artística.

Meses depois, Danino e Muniz haviam criado, utilizando células da bochecha e células de câncer, inúmeras obras belamente bio-manipuladas. Aos 52 anos, Muniz é conhecido por usar feixes de ións para desenhar castelos de areia em grãos minúsculos de areia. Ele explica: "Gosto muito de trabalhar com cientistas porque sinto que talvez possamos nos encontrar no meio do caminho e criar uma obra de arte perfeita: uma combinação exata entre matéria e significado. O Colônias nasceu de uma colaboração entre um artista e um cientista que queriam criar imagens a partir de seres vivos - seres vivos minúsculos". O projeto abrangeu vários segmentos artísticos e testou os limites de ambos: na experiência, a fluidez do processo artístico complementava o método científico – e vice-versa.

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Gravura de um gato feita com células cancerígenas

Danino enumerou os três passos do processo de criação das obras biológicas:

O processo de criação dessas imagens tem três etapas. A primeira etapa consiste em criar uma imagem-base usando técnicas de fotolitografia. Depois disso, moldamos uma espécie de carimbo de borracha a partir dessa primeira imagem, e carimbamos essa figura usando uma substância grudenta; é nessa subtância que as células cancerosas ou as bactérias irão grudar. O último passo é inserir as células cancerosas ou bactérias à superfície marcada, esperar até que elas grudem na substância pegajosa e observar o resultado por um microscópio. Com ele, podemos observar as células e bactérias individualmente. Quando olhamos mais de longe, podemos ver a gravura final.

Depois da criação dessa técnica especial de "gravura", o céu se tornou o limite: a dupla foi buscar inspiração nas fotografias do Vik Muniz, e a partir delas criaram a série, intitulada Colônias. Conforme os testes comprovaram que as bactérias e células poderiam ser utilizadas como material artístico, a experiência se tornou cada vez mais desafiadora para ambos artista e pesquisador. Muniz diz que "nunca imaginei que conheceria alguém capaz de produzir num nível tão alto de complexidade. Para minha surpresa, ele foi bem-sucedido, e para a surpresa dele, o processo foi mais complexo do que ele imaginava".

Muniz continua: "Começamos com padronagens bem simples; nosso objetivo era moldar algo muito caótico em formatos muito padronizados, criados pela mente humana. Começamos a fazer isso e logo sentimos vontade de testar diferentes padrões, como imagens de multidões, eventos esportivos, engarrafamentos e placas de circuitos… É como tentar unir mente e matéria e ver o que sai".

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Gravuras de um engarrafamento, um estádio e uma placa de circuito feitas de bactérias e células.

Gravura de Células do Fígado 1.' Cortesia de Vik Muniz e Tal Danino.

Recorte de imagem de células de fígado de rato da obra 'Gravura de Células do Fígado 1.'  

Apesar do grande sucesso das obras, ambos criadores admitem que o público pode se sentir ofendido pelo material utilizado nas imagens da série. A própria relação entre Danino e a doença era irrelevante até sua irmã descobrir que estava com câncer. A doença é um tópico universal, e só a arte pode subvertê-la esteticamente. Muniz afirma que "há algo de belo em transformar uma imagem feita a partir de células cancerígenas - algo tão assutador e tão incompreensível - em algo que possa transmitir beleza […]. É preciso uma imagem para trazer esse tipo de coisa para a vida das pessoas. É algo que precisa de um meio, um caminho para a experiência. É assim que artistas e cientistas podem se unir – criando uma visão".

Alguns dos materias usados no projeto podem ser bem polêmicos, mas Muniz falou com muito bom humor sobre as outras coisas nojentas usadas em Colônias: "Vemos as bactérias como algo ruim, mas na verdade elas mandam no mundo. Temos mais bactérias em nosso corpo do que células humanas. Se não fôssemos hospedeiros dessas bactérias, estaríamos mortos. É uma colaboração vitalícia".

Essa colaboração nos mostra o quão longe a ciência chegou. Como explica Danino, "na biologia sintética, nós reprogramamos a vida. Pensamos sobre como a natureza cria a vida, e, subsequentemente, elaboramos formas de recriar a vida e reprogramá-la para fazer coisas que ela não faz naturalmente". É um projeto grandioso, e com um objetivo nobre. "Tenho criado bactérias capazes de detectar o câncer, aqui no MIT", diz o cientista. “A ideia que fundamenta a pesquisa é a de que bactérias podem sobreviver dentro de tumores. Quando essas bactérias crescem dentro de um tumor, elas identificam esse ambiente e produzem uma molécula específica que nos permite identificar a presença de um tumor".

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O projeto é um exemplo fascinante do que pode acontecer quando a ciência e a arte se harmonizam. E, considerando os criadores em questão, é bom ficar de olho no que eles vão cultivar no futuro.

'Gravura de célula HeLa .' Cortesia de Vik Muniz e Tel Danino.

O primeiro retrato bacteriano de Vik Muniz.

Um autorretrato de Tal Danino feito de células do fígado.

Todo o dinheiro arrecadado pela série 'Colônias' será doado para pesquisas sobre o câncer. Para saber mais sobre o projeto, visite o site do Tal Danino.

Tradução: Ananda Pieratti