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Passei uma Noite no Balé de Robôs

Humanos e suas criações dividiram o palco na semana passada na Academia de Música do Brooklyn.

Créditos das imagens: © Laurent Philippe, a não ser que haja uma indicação contrária. Cortesia do Museu de Arte do Brooklyn.

Fim de semana passado, dançarinos e robôs compartilharam o palco da Academia de Música do Brooklyn, numa performance que personifica a máquina e mecaniza o homem. Criação da coreógrafa Blanca Li, ROBOT é um espetáculo com 15 bailarinos — oito seres humanos e sete robôs humanóides do tamanho de crianças pequenas (NAO bots), dançando lado a lado, imersos nos sons de uma “orquestra mecânica”. Famosa por suas coreografias coloridas e excêntricas, Li usa ROBOT como um veículo para explorar a polaridade entre homem e máquina, buscando um nexo onde ambos podem prosperar. Com homens imitando robôs e robôs imtando homens, o espetáculo abarca temas grandiosos através das lentes da ironia, do humor e da justaposição da beleza humana e da beleza maquinal.

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Em ROBOT, Li desencadeia diversos questionamentos, como O que define as fronteiras entre “nós” e “eles”? e Será que máquinas sofisticadas são mesmo capazes de replicar a relação humana com a Natureza?. A performance começa com uma figura masculina parada em pé no meio do palco. Em meio a uma paisagem sonora de arranjos mecânicos, projeções cobrem seu corpo, que está quase nu. A plateia testemunha sua transformação — de rodas, engrenagens e alavancas a representações completas de diversos robôs da cultura pop. Logo, os demais dançarinos juntam-se a ele no palco, em movimentos robóticos sincronizados com batimentos cardíacos, e transitam para a música clássica, para uma coreografia mais vagarosa, mais fluida, que alude à vida e às origens da humanidade.

O primeiro robô a se apresentar faz parte do conjunto musical, ou “orquestra mecânica”. O grupo musical de máquinas foi criado por Maywa Denki, duo premiado de designers de produto. São dois irmãos japoneses que criam e sonorizam objetos de arte musical, que eles apresentam em performences ao vivo, as chamadas “demostrações de produto”. Cada peça da orquestra tem um papel distinto, entre sinos, percussão e maracas, culminando em um som eclético; minimalista, porém versátil. A trilha magistral de ROBOT foi composta por Tao Gutierrez: cada cena demanda uma atmosfera própria, e as músicas de Gutierrez seguem variadas, inovadoras, longe de serem tediosas, embora a paleta seja limitada por sons primitivos. Ao longo do espetáculo, robô e homem constróem uma relação de mestre e aprendiz, ou pai e filho — o robô aprende a andar, e então a dançar —, e a música de Gutierrez transcende. Como uma homenagem a Carl Orff e Mark Mothersbaugh, a beleza da composição está na simplicidade, ao passo que sons minimalistas suscitam momentos passionais de humanidade entre homens e robôs.

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Gael Rougegrez e o robô fazem uma pose

ROBOTtraz à tona reflexões sobre a evolução pós-humana, a transformação do humano em humanóide e, entre outras questões, a empatia que pode existir entre os homens e suas criações. Um dos maiores êxitos do espetáculo está no ar nascente de vida que cada robô parece exalar, presente nos detalhes mais despretensiosos, como um leve movimento com a cabeça ou o esforço para ficar de pé, retinho. A plateia responde com exclamações uníssonas de encorajamento ou consternação à medida que cada robozinho triunfa ou fracassa. É essa evocação sentimental, junto com o tópico provocante, que transcende: ROBOT oscila entre espetáculo para plateias jovens e dança performática adulta, conceitos que nunca coalescem de fato.

Fiel à forma, o humor excêntrico de Li emerge em momentos como a cena da discoteca, em que uma das miniaturas robóticas, de vestido roxo de paetês e cachecol de plumas pink, dança e interpreta “Bessame Mucho”, com figurantes humanas ao fundo bajulando, ovacionando. O espírito cômico do espetáculo lembra os números que ela coreografou para o filme Os Amantes Passageiros, de Pedro Almodóvar, em 2013. Os trechos mais sombrios, geralmente com os dançarinos humanos, meditam acerca da ambiguidade de gênero e do caminho histórico da humanidade. Li buscou “explorar as relações entre humanos e corpos artificiais”, e transmitir a ideia de que robôs podem ser companhias próximas e solidárias. Nos melhores momentos de ROBOT, ela triunfa ao revelar esse sentimento e explorar a noção do que significa ser humano em um mundo onde nossa dependência em tecnologia se aprofunda mais a cada dia.

Foto por Magali Bragard

ROBOT estava em cartaz na Academia de Música do Brooklyn de 9 a 14 de junho de 2015. Clique aqui para obter mais informações.

Tradução: Stephanie Fernandes